Por uma educação masculina alternativa

Nós, homens, somos na maioria das vezes criados dentro de padrões já estabelecidos do que é ser homem, que delimitam quais devem ser nossos gostos e como devemos agir dentro de determinadas situações. Connell e Messerschmidt (2013) discutem esses padrões, que caracterizam através do conceito de Masculinidade Hegemônica, assim como discutem suas consequências nas relações entre os gêneros e nas vidas dos próprios homens, visto que tais comportamentos podem muitas vezes carregar certa toxicidade. Tal forma de masculinidade é pautada na dominação e reflete em nossas relações amorosas, de amizades e até mesmo em ambientes de trabalho, como aponta bell hooks, escritora e teórica feminista, em seu livro O feminismo é para todo mundo.


É a partir da percepção dessas características e problemáticas que tem crescido com tanta força o debate sobre masculinidade tóxica, visto que tais padrões geram comportamentos e sentimentos tóxicos. Primeiro, simplesmente por definir o masculino através da performance de força, virilidade, violência e dominação, e qualquer masculinidade que seja performada diferente desses padrões é deslegitimada, (quem nunca ouviu um “vira homem” ao ter um comportamento que não seja de demonstração de força, mas sim de fragilidade?). Um segundo ponto é que tal forma de masculinidade pauta até mesmo a dominação de nossos próprios corpos, pois homens “de verdade” são fortes e musculosos.

A partir disso, podemos perceber que a masculinidade hegemônica se constrói também em oposição ao feminino, uma vez que cabe ao homem dominar toda e qualquer relação, tanto entre diferentes gêneros como até mesmo no meio de outros homens. hooks (2020) constata essas características e aponta que uma estratégia para combater tais padrões seja a construção de uma masculinidade feminista, uma forma de masculinidade alternativa pautada na igualdade das relações de gênero e antissexista, capaz de promover uma melhor relação dos homens entre si e entre outros gêneros.

E como construir isso? A autora aponta o papel fundamental que tem a educação e a criação dos meninos desde cedo. Além disso, algumas iniciativas, como rodas de conversa entre homens para discutir exatamente esses padrões, estão emergindo. Perceber a nocividade de tais comportamentos e refletir sobre eles já é um grande passo, mas precisamos ir além e trabalhar para a construção de realidades alternativas, e somente com o diálogo e reflexão poderemos seguir essa empreitada.

1Para uma melhor compreensão desse conceito e ampliação da discussão, deixo como indicação o seguinte post do Instagram do @clubeleiturasfeministas <https://www.instagram.com/p/CMXXwh6F02C/>

Vinicius Sturari é Presidente da Comissão Estadual de Educação.


Referências


CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, James W.. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Rev. Estud. Fem.,  Florianópolis ,  v. 21, n. 1, p. 241-282,  Apr.  2013.

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.

*Nota do editor: A autora bell hooks assina com a grafia sem caixa alta nas iniciais, da maneira como o autor redigiu no texto.