Valorização da diversidade e pluralidade

Quinta-feira, 17 de maio de 1990. Movimentos sociais organizados em prol da defesa dos direitos LGBTQIA+ em todo o mundo vibravam, juntos, diante de uma importante conquista ao passo em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirava a homossexualidade da classificação internacional de doenças e passava a considerá-la como aquilo que ela, de fato, é: não uma patologia, mas um dos tantos traços da personalidade e da diversidade do ser humano.


Até então, a homossexualidade era (erroneamente) interpretada junto a transtornos mentais como a pedofilia; e as pessoas homossexuais, bissexuais e transexuais eram tratadas como doentes, pecadores, como desviados que precisavam de cura ou até mesmo como criminosos que careciam de reabilitação. 


Em outras palavras, numa época em que nossos pais tinham aproximadamente nossa idade, essas pessoas ainda eram legalmente violadas e violentadas a fim de se verem livres de suas “doenças”. Eram submetidas a malfadadas técnicas conhecidas como terapias de reversão, que incluíam tratamentos de choque, medicações diversas, cirurgias invasivas e procedimentos abomináveis.


Por representar tamanha conquista civilizatória, o dia 17 de maio ficou marcado para a história e é rememorado todos os anos – não como uma data comemorativa, mas como um registro daquilo que já conquistamos e como uma lembrança de que ainda precisamos empenhar muito esforço na defesa dos direitos humanos. Afinal, como a história bem nos mostra, às minorias sociais, nenhuma garantia é reconhecida senão fruto de uma luta que deve se manter firme e vigilante. 


Exemplo da importância desse estado contínuo e atento de mobilização é que, somente em maio de 2019, em outro grande marco em matéria de direitos humanos, a OMS conferiu à identidade de gênero o mesmo tratamento que há quase três décadas havia sido dado à homossexualidade e finalmente retirou a transexualidade do rol de transtornos mentais. 


A importância de seguir em luta reside também no fato de que a despatologização dos corpos LGBTQIA+, apesar de importante e simbólica, passou muito longe de esgotar todo o sofrimento por eles vivenciado. Essas pessoas, até hoje, continuam sofrendo violações constantes e vendo seus direitos serem sufocados e cerceados numa violência institucional, estrutural e generalizada. 


A homofobia, a bifobia e a transfobia ainda são uma realidade vivida e sofrida diariamente. Nas ruas, nas escolas, igrejas, no trabalho, nas repartições públicas e até mesmo dentro de casa, o preconceito se manifesta de maneiras variadas, em níveis distintos. Propositalmente ou não, a discriminação fere, machuca e mata; e é praticada tanto por desconhecidos como por amigos, colegas, superiores, professores ou familiares. Ela reside tanto num piada aparentemente inofensiva como num ato motivado de violência física.


No Brasil, um dos países que mais mata e mais violenta as populações LGBTQIA+, é especialmente importante compreender a profundidade das raízes da homotransfobia na sociedade e a importância de nos posicionarmos em favor das vidas que, em decorrência dela, são oprimidas e marginalizadas. É essencial que saibamos a extensão do preconceito, como ele se faz presente em nosso cotidiano e como podemos atuar para mitigar seus efeitos e a fim de evitar reproduzir atitudes discriminatórias que tanto ferem a honra e a dignidade das pessoas.


Precisamos usar nossa voz para ampliar o grito dos oprimidos e usar de nossos lugares de privilégio para levar essas discussões aos espaços em que estamos inseridos. É nosso dever sermos conscientes e ajudar a conscientizar os demais, colocando-nos sempre de maneira firme em defesa daqueles que necessitam de apoio. 


Como brasileiros, como seres humanos, como membros de nossas comunidades e, acima de tudo, como DeMolays, devemos estar voltados à valorização da diversidade e da pluralidade, que são princípios democráticos perfeitamente alinhados aos nossos nobres baluartes. Devemos evocar o compromisso da fraternidade, em respeito e empatia às distintas formas de ser, emanadas por cada um de nós.


Lembremos, afinal, do nosso zelo pelas liberdades e pelo direito de viver nossas vidas sem amarras, guiados apenas pela pureza e pela vontade de fazer o bem, pois uma das grandes virtudes da vida, junto àquelas que bem conhecemos, é poder viver livre para ser quem se é.